O sentimento religioso comum é percebido desde os tempos pré-históricos. Cada antiga sociedade descoberta pela arqueologia, por mais remota que seja, apresenta algum tipo de prática religiosa – e todas com algo em comum.
De modo geral, essas práticas estão relacionadas a conseguir colocar a divindade a seu favor. No passado tinha a ver mais especificamente com conseguir boa colheita, proteção contra desastres naturais e alívio com relação à morte (inclusive os símbolos do ovo e do coelho, usados na época da páscoa, têm esse sentido, como na figura ao lado). Para isso, os mais diversos tipos de rituais eram criados, incluindo, muitas vezes, estilos desumanos de vida até o sacrifício de crianças.
Nesse tipo de mentalidade, a divindade (seja ela qual for) é sempre vista como distante e alheia aos seres humanos, sendo, no mínimo, indiferente a eles e, muitas vezes, até usando-os para seus jogos divinos. Assim, o que resta ao adorador é arranjar um meio de chamar atenção para si e conseguir, no mínimo, que os deuses não atrapalhem seu cotidiano e, melhor ainda, ter algumas vantagens da parte deles.
Em todos os casos a idéia principal é conseguir manter tudo bem, sem surpresas desagradáveis. Não há uma busca do sentido de pessoa, do modo de viver e se relacionar, e nem mesmo uma missão para a vida e o ambiente em que se vive – a não ser que se ganhe “pontos” com isso. É aí que rituais, liturgias, leis e tantas outras coisas surgem caracterizando diferentes religiões, como meios para se chegar até a divindade ou, no mínimo, aplacar sua ira e receber seus favores.
Esse tipo de sentimento é encontrado inclusive entre os cristãos atuais, ainda que a mensagem do Evangelho de Cristo seja diferente.
A preocupação em termos de: “prosperidade ou miséria”; “bênção ou maldição”; “vitória ou derrota” (que acaba sendo o mesmo que “sorte” e “azar” num passado recente) – tem tomado a centralidade da pregação e das práticas de igrejas que, ainda assim, se denominam evangélicas. Esses termos podem até aparecer na Bíblia em situações mais específicas, mas não formam a base da pregação cristã, pelo contrário, acabam sendo usados para a manutenção daquele sentimento religioso comum que descrevemos acima.
É nesse contexto que a mensagem da cruz é vista como “escândalo para os judeus e loucura para os gentios”, como diz Paulo em 1ª Coríntios 1.23. Na verdade o Cristo crucificado entra em choque com todo o sistema religioso comum.
Nunca se poderia imaginar um Deus que se rebaixasse à condição humana e aí se rebaixasse aos próprios humanos, sendo humilde, servindo e morrendo de forma tão vergonhosa. E tudo isso em favor não daqueles iluminados que teriam alcançado o favor da divindade, mas de pecadores rebeldes que nada mereciam. O próprio apóstolo Paulo argumenta:
“Dificilmente alguém morreria por um justo; pois poderá ser que pelo bom alguém se anime a morrer. Mas Deus prova o seu próprio amor para conosco pelo fato de ter Cristo morrido por nós, sendo nós ainda pecadores” (Rm 5.7,8).
Se a obra de Cristo não fosse real, nunca poderia ser inventada pela mente humana e sua tradição religiosa, que, por mais diversa que seja, acaba sempre apontando pra um modo de se chegar à divindade.
Vê-se, na mensagem cristã, não um Deus alheio que precisa ser conquistado, mas um pecador perdido que precisa ser encontrado por Ele. Não se criam rituais para ganhar o favor de Deus, mas se ensina a ver o sacrifício do próprio Deus para nos buscar.
O verdadeiro cristianismo enfatiza a permanência de Cristo em nós e nós nele. Uma realidade aqui no nosso tempo e espaço que, de uma maneira além da imaginação, une céus e terra, corpo e alma, finito e infinito. Em Jesus todas as coisas dos céus e da terra se convergem (cf. Ef 1.10) e, assim, há paz entre Deus e o homem por meio da fé (Rm 5.1).
A vida, então, já não é um palco para as disputas entre homens e deuses em seus caprichos, mas o lugar amado por Deus e alvo de sua salvação e restauração, e isso justamente por estar em desarmonia e ter todos aqueles sofrimentos. Re-unidos a Ele por Cristo, os que foram alcançados se envolvem em sua missão e vivem, ainda neste mundo, por meio dele, como diz João:
“Nisto se manifestou o amor de Deus em nós: em haver Deus enviado o seu Filho unigênito ao mundo, para vivermos por meio dele”. (1 Jo 4.9).
Essa é a Palavra de Deus que permanece para sempre, uma mensagem tão louca que nunca poderia ter sido inventada se não fosse revelada. Não podemos deixar que refinamentos da religiosidade humana se coloquem no lugar dela e nem que a ofusquem.
Viver pela fé é deixar que essa realidade invada nossos corações e mentes e nos faça viver de acordo com essa mensagem: reconhecendo o que Deus fez por nós em Cristo; encontrando-o em nós e permanecendo nele; e, assim, nos envolvendo com a missão de amor que ele tem para com este mundo.
Qual o cerne da sua religiosidade: o comum ou a loucura da cruz?
Lina disse:
A Cruz é loucura até mesmo para o maior filósofo. É um salto mortal. Mas, para os que creem é poder de Deus, é salvação. É o encontro com a Verdade (Cristo).
Flávio voce tem razão quando fala sobre as igrejas estarem se distanciando da Cruz. Até mesmo nós, as vezes distanciamos dela em nosso modo de agir. Pensamos estar no caminho e as vezes nos afastamos dele. Porque a Cruz significa amor. O amor de Deus dado para nós incondicionalmente. Talvez se fosse assistir vários sermões neste Brasil, podería perceber que a maioria não prega a graça. Que os fieis saem dos sermões com medo e não livres. A Cruz liberta com certeza. Mas, não é uma liberdade para pecar. Se pecarmos ivoluntáriamente recebemos a disciplina. Pois a biblia diz que somos filhos e portanto somos disciplinados. Mas a disciplina é sinal do amor de Deus. E não castigo no sentido pejorativo. Os que creem em Cristo sabem disso, ou pelo menos deveriam saber.
O que leva então a maioria das igrejas a desviar-se da Cruz? Lógico que a resposta mais rápida, seria o pecado. Mas, penso que verificando a própria Palavra (Bíblia) em todos os seus ensinamentos nos desperta com a disciplina o tempo todo. Jesus nos evangelhos, Paulo em suas epistolas, o A.T exortando ao temor de Deus. Ou seja levá-lo a sério. Estas palavras recebidas a cada dia, mostrando as consequencias de obedecer e não obedecer, sem o tempero da graça, acaba virando legalismo. E estas mesmas palavras recebidas, abusando-se da graça vira descuido e desmazelo. O que não agrada a Deus também.
O melhor mesmo é ouvir com respeito todas as coisas que Deus ensina em sua Palavra, amar ao próximo, procurar exercitar justiça. Porque acredito que a fé não é passiva e sim ativa. E nunca perder de vista que estamos aqui na condição de salvos, por causa da Cruz, do que Jesus fez. Confessar os nossos pecados. Ou melhor reconhece-los. E continuar a caminhada na Graça.
Eu falei estas coisas, porque na verdade, gostaria de saber o que leva as igrejas a estas dicotomias. Entre o bem e o mal, benção e maldição, e etc Acho, que esta é uma questão para pensar… Um desafio que voce está propondo com os estudos dos sermões.
Abraços e parabéns.
Alexandre Max disse:
Excelente comentário Lina, na minha opinião o motivo das igrejas estarem se distanciando da cruz é que ninguém quer ouvir pregação de pastor sobre “deserto” “ervas amargas” “cruz” tudo isso não dá “ibope” ou dízimo a moda das igrejas é Prosperidade, Testemunho de Vitória Financeira, e por aí vai…. infelizmente pois o Maior Homem que pisou nesse Planeta viveu pela Fé podia ter tudo e abriu mão de tudo para nos deixar o Exemplo de Vida e Vida Eterna na Fé Cristã.
Lina Marisa disse:
A Igreja sai da graça, quando começa uma lista de deveres e criticas. Porque a graça, tenta compreender o próximo e não julgá-lo. E quando exorta é pela graça, pelo amor.